terça-feira, 12 de julho de 2011

A vida é uma quadrilha


Por Clara Lima




Carlos Drummond de Andrade faz, no poema "Quadrilha" (1954), uma ligação entre o moderno e o tradicional, a cultura e a vida cotidiana.

O título e o próprio poema só tomam significado a partir da forma do texto, que de maneira ritimada, se assemelha a dinâmica da tradicional dança, que no Brasil é parte fundamental das comemorações juninas. Dançada por jovens dispostos em casais, a quadrilha tem um caráter teatral e muito regional, que, mesmo nos ambientes mais urbanos, caracteriza-se como uma breve e estereotipada volta ao passado e ao campo, com seus caipiras com dentes pintados de pretos, e suas caipiras com tranças e vestidos cheios de retalhos, que dançam, pulam, cantam, formam enormes rodas e incesantemente trocam de pares.

No poema há, portanto, um elo entre o novo, que vai se distanciando cada vez mais das tradições, e o velho, já que, paradoxalmente, a vida moderna ainda é cheia de amarras conservadoras. Através das palavras de Drummond é possível ver a vida humana e seus dilemas como algo íntrinseco à própria cultura e história: os amores não correspondidos, a felicidade e a infelicidade, a sorte, o acaso e o destino, que são expressos no poema por meio de simples frases, fatos rápidos sem muito contexto, como passos de uma dança.

É interessante também estabelecer uma intertextualidade entre a "Quadrilha" de Drummond com a "Flor da Idade" de Chico Buarque. Na sua música, Chico enfoca ainda mais a temática da juventude, e usa da forma poética de Drummond em um trecho, ressaltando os primeiros amores e seus dramas volúveis e intensos, e os duelos temporais.

Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Carlos Drummond de Andrade

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