sexta-feira, 15 de julho de 2011

Darcy Ribeiro e a Nova Roma: o Brasil como utopia latina

Por Vinícius Dino

Compartiho nesse post um vídeo do antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro dando um breve depoimento que faz pensar sobre o Brasil que somos, e acima de tudo, o Brasil que queremos ser. Darcy fala com a propriedade e a lucidez de um visionário, alguém que escreveu e pensou o Brasil criticamente como poucos em nossa história fizeram, e também tem a autoridade de alguém que na vida política (na condição de parlamentar e ministro da Educação) e na vida acadêmica deu contribuições imensas à construção de um país verdadeiramente livre e independente. Esse país mestiço, essa "face morena", afirma ele, pode ser uma grande civilização que, mais do que potência econômica, é potência humana e carrega em si a essência de um povo que é grande em sua latinidade. Originados no Lácio, povos antigos saíram da Península Itálica para a Ibérica, e de lá para o mundo: eis aí as raízes do Brasil. Um Brasil que para realizar suas potencialidades, só precisa dar dignidade ao seu povo. Povo esse que, apesar de belo, é maltratado por aqueles que não enxergam que a riqueza do dinheiro, sendo efêmera e ilusória, se apequena quando comparada à riqueza das pessoas. Nesse sentido, cabe a indagação do início do post: que país queremos ser? O país das crianças com fome e dos 15 milhões de analfabetos? Ou um país soberano que caminha de cabeça erguida em direção ao futuro, falando com orgulho uma língua latina, que afinal é a sua? O sucesso da civilização brasileira e latino-americana, defende Darcy, depende apenas da realização de reformas realmente transformadoras, que alterando a estrutura da sociedade brasileira, são reforma e revolução ao mesmo tempo. As mesmas reformas interrompidas pelo golpe de 64, ocasião em que ele era ministro da Educação do Brasil, e dava à educação brasileira o mesmo norte dado à UnB, que foi idealizada para “montada no conhecimento, pensar o Brasil como problema”. (RIBEIRO, Darcy. Universidade para quê? Discurso pronunciado durante a cerimônia de posse do Reitor Cristóvam Buarque, em 16 de agosto de 1985). Dar escola a todos, terra para quem nela trabalha, acabar com a desigualdade, fazer da cidade e do campo ambientes justos e solidários: é o que precisa ser feito. Fazer as reformas agrária, tributária, política, eleitoral, educacional; e quantas outras mais forem necessárias. Nesse momento, pontua Darcy, "vai florescer no mundo uma civilização diferente, que nunca niguém viu". É essa a singela mensagem do primeiro reitor da UnB para o Brasil.

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