sexta-feira, 1 de julho de 2011

À margem da travessia


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos..."
Fernando pessoa

Por Daniela Dino
           O grande problema da sociedade consiste justamente na simples e rápida satisfação do indivíduo.  Banhadas pelo comodismo e sustentadas pelo pensamento de que nada está ao alcance de suas mãos, as pessoas tem relutado em se manifestar, em ir contra o que está errado e abusivo e, dessa forma, buscar as mudanças tão idealizadas em palavras. O que de fato tem acontecido? A sociedade tem mostrado um grande descontentamento com os resultados de políticos eleitos e da formação educacional social, porém, visto que vivemos em um âmbito de elite concentrada e privilegiada, os únicos com a chamada “capacidade de argumentação e discernimento” do que está certo ou errado são os favorecidos. Portanto, para eles, o argumento de indignação é suficiente, já que os mesmos não são e nunca serão afetados pela crescente desigualdade social. Já passou da hora da burguesia fajuta fazer a diferença. Sair das ideologias e ir às ruas. Se há uma verdadeira insatisfação popular, inclusive da elite que supostamente se incomoda, muitas vezes, com tamanha disparidade nacional, é preciso que as roupas usadas sejam abandonadas e que os caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares sejam esquecidos; os movimentos devem ser criados e organizados; para que então a travessia possa ser feita, de forma a não permanecermos na inércia de vivermos à margem de nós mesmos.

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